Tradições portuguesas que são património imaterial da humanidade
Conheça a exclusiva lista das mais preciosas tradições portuguesas inscritas no património imaterial da UNESCO.
O património cultural imaterial tem a ver com as tradições
vivas de cada povo. Algo que é herdado do passado, mas que ainda é contemporâneo,
representativo e inclusivo.
“O património cultural imaterial deve ser reconhecido como tal pelas comunidades, grupos ou indivíduos que o criam, mantêm e transmitem – sem o seu reconhecimento, ninguém poderá decidir que uma determinada expressão ou prática constitui o seu património”, diz a Direção-Geral do Património Cultural.
Festa dos Tabuleiros
A Festa dos Tabuleiros de Tomar é a mais recente tradição inscrita no
inventário de Património Imaterial Português
a 8 de maio de 2023.
Segundo a Câmara Municipal de Tomar, a Festa dos Tabuleiros
remonta ao séc. XIX e surge integrada nas festividades do Culto do Divino
Espírito Santo. Realiza-se geralmente de quatro em quatro anos, no princípio de
julho, durante um período de 10 dias.
Esta manifestação de cariz religioso e cultural conta com vários segmentos
festivos: a Procissão das Coroas e Pendões do Espírito Santo no Domingo de
Páscoa, o Cortejo dos Rapazes, os Jogos dos Rapazes, as Ruas Populares
Ornamentadas, o Cortejo do Mordomo, Cortejos Parciais e Jogos Populares
complementam-se até ao Grande Cortejo dos Tabuleiros, no domingo. O evento
culmina na distribuição de géneros alimentares, a Pêza, na segunda-feira.
“A transmissão desta manifestação é intergeracional e efetua-se através da
oralidade, observação e prática, com destaque para a participação feminina na
qualidade de portadora do Tabuleiro, envolvendo todos os elementos da
comunidade e fortalecendo os laços de pertença e de construção identitária”,
adianta a CMT.
Fado
Enquanto canção urbana popular, o Fado é um dos símbolos mais
representativos de Portugal. Está inscrito na Lista Representativa do
Património Cultural Imaterial da Humanidade desde 2011.
Este género artístico “combina a música com a poesia, sendo amplamente
praticado em várias comunidades de Lisboa”, explica a DGPC. “Constitui uma
síntese multicultural dos bailes cantados afro-brasileiros, de géneros
tradicionais de música e dança locais, de tradições musicais das zonas rurais
do país trazidas para a cidade pelas sucessivas vagas de imigrantes, e de
correntes de canções urbanas cosmopolitas do início do século XIX”.
Cantado por um intérprete, tradicionalmente acompanhado por guitarra acústica e/ou guitarra portuguesa, o Fado é frequentemente transmitido de geração em geração nas conhecidas “casas de fado”, associações comunitárias e espaços tradicionais. É considerado uma “música do mundo”
Dieta mediterrânica
No caso da Dieta Mediterrânica de Portugal, a aspiração a património imaterial acompanhou a candidatura do Chipre, Croácia, Espanha, Grécia, Itália e Marrocos, em 2013.
Mais do que uma forma de alimentação, a Dieta Mediterrânica “abrange um conjunto de competências, conhecimentos, rituais, símbolos e tradições relativos ao cultivo, colheita, pesca, criação de animais, conservação, processamento, confeção e, em especial, partilha e consumo dos alimentos”, segundo a DGPC. Marca um momento de troca social e comunicação “em toda a bacia do Mediterrâneo”, enfatizando valores como a hospitalidade, vizinhança, diálogo intercultural, criatividade e respeito pela diversidade.
Neste âmbito, “as mulheres desempenham um papel importante na transmissão do conhecimento”, tanto na salvaguarda das técnicas como na manutenção dos ritmos sazonais e eventos festivos.
Cante alentejano
Além do Fado, há outro género musical tipicamente português inscrito nesta lista exclusiva em 2014. Trata-se do cante alentejano, um canto polifónico executado por grupos corais amadores.
A definição da DGPC fala num repertório “constituído por melodias e poesia oral (modas), executado sem instrumentos musicais”. Os grupos podem ser constituídos até 30 cantores, geralmente do sexo masculino. O “ponto” inicia a moda, o “alto” duplica a melodia uma terceira ou uma décima acima, seguido pelo grupo coral que canta os versos restantes em terceiras paralelas.
As letras exploram tanto os temas tradicionais como a vida rural, a natureza, o amor, a maternidade ou a religião, como as mudanças no contexto cultural e social. O Cante constitui um aspeto fundamental da vida social das comunidades alentejanas, criando um forte sentido de identidade e de pertença.
Falcoaria
Tal como a Dieta Mediterrânica, a Falcoaria portuguesa integrou uma candidatura conjunta com outros países, em 2021. Neste caso, a Alemanha, Arábia Saudita, Áustria, Bélgica, Cazaquistão, Croácia, Emirados Árabes Unidos, Eslováquia, Espanha, França, Hungria, Irlanda, Itália, Marrocos, Mongólia, Países Baixos, Paquistão, Polónia, Portugal, Qatar, Quirguistão, República Árabe da Síria, República Checa e República da Coreia.
A Falcoaria é encarada como património humano vivo. Originalmente, constituía um método de obtenção de alimentos. Hoje em dia, é associado à conservação da natureza, ao património cultural e às atividades sociais nas comunidades que a praticam. Com as suas próprias tradições e princípios éticos, os falcoeiros treinam, fazem voar e criam aves de rapina – não apenas falcões, mas também águias e outros accipitrídeos. São capazes de viajar semanas seguidas para executar a sua prática e partilhar as suas histórias. Para eles, a falcoaria estabelece uma relação com o passado e uma ligação com o ambiente natural e a cultura tradicional. Promover Encontros e Festivais constitui uma oportunidade para partilha conhecimentos, incrementar a sensibilização e promover a diversidade.
Figuras em Barro de Estremoz
A produção de figurado em barro de Estremoz está na lista
desde 2017. Esta forma de artesanato remonta ao séc. XVII e a sua produção prolonga-se
por vários dias: os elementos das figuras são montados antes de serem cozidos
num forno elétrico, pintados pelo artesão e cobertos com um verniz incolor.
Somos todos de quebradiço barro; somos uns pucarinhos de Estremoz nas mãos infantis das mulheres.
- Camilo Castelo Branco
Os temas das figuras são tradicionalmente relacionados com a região alentejana, suas atividades, paisagem e devoções populares, bem como a iconografia religiosa cristã.
Para proteger e divulgar esta tradição, são organizadas feiras a nível local, nacional e internacional. Os conhecimentos e competências são transmitidos nas oficinas familiares e em contexto profissional e escolar.
Carnaval de Podence
No final do inverno, o Carnaval de Podence é uma das tradições mais coloridas no Norte de Portugal.
Também conhecido como Entrudo Chocalheiro, esta festa popular
foi inscrita na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da
Humanidade em 2019. Realiza-se entre o Domingo-Gordo e a Terça-Feira de
Carnaval, na pequena aldeia transmontana de Podence, no concelho de Macedo de
Cavaleiros. Os Caretos, personagens mascarados com fatos com franjas de lã
colorida, máscaras de lata ou couro e chocalhos à cintura, saem pelas ruas em
saltos e correrias.
Festas do Povo de Campo Maior
As Festas do Povo de Campo Maior foram classificadas como Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO em dezembro de 2021.
A Câmara Municipal de Campo Maio descreve estas Festas como a decoração das ruas com flores de papel e outros objetos em cartão e papel, sobretudo no centro histórico da vila. Curiosamente, o evento não se realiza regularmente, mas sim “quando o Povo entende”. As últimas festas foram em 2015, segundo a autarquia. Para além dos milhares de flores, o visitante vai encontrar bailes e “saias” – melodias suaves inspiradas em quadras soltas e acompanhadas pelo ritmo de pandeiretas e castanholas.
Barro preto de Bisalhães
Executado com fins decorativos e para confeção dos alimentos, a prática tradicional de louça de barro preto é uma parte integrante da cultura de Bisalhães – uma aldeia no concelho de Vila Real, norte de Portugal.
A forma de preparar e decorar a louça mantém-se quase inalterada há séculos e inclui diversas etapas. Começa-se por esmagar a argila com um martelo de madeira num tanque de pedra. Depois, é peneirada e adiciona-se água, amassa-se o barro e molda-se a peça. O alisamento é feito com o seixo e a decoração segue motivos tradicionais. Por fim, leva-se as peças a cozer em fornos ao ar livre.
Tradicionalmente, a argila é preparada por homens e a decoração por mulheres. Contudo, a atual falta de artesãos deixa em risco este património.
Desde 2016 que o Barro Preto de Bisalhães está inscrito na Lista do Património Cultural Imaterial que Necessita de uma Salvaguarda Urgente.
Filigrana da Póvoa de Lanhoso
Desde maio de 2023 que a arte da Filigrana da Póvoa de Lanhoso está inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.
“A relevância desta prática enquanto reflexo da identidade da comunidade no presente, a sua importância histórica no desenvolvimento cultural e económico do território em que se insere, bem como, os processos sociais e culturais relacionados com as dinâmicas de transmissibilidade ao longo de gerações de artesãos filigraneiros na Póvoa de Lanhoso” são destacados neste reconhecimento, há muito desejado pela autarquia e artesãos locais.
O coração minhoto será a peça mais emblemática da filigrana, mas a arte tradicional vai ainda mais além desta elaborada peça.
Fios finíssimos de ouro e prata são entrelaçados e aplicados pelo mestre filigraneiro, criando um rendilhado precioso. As joias são exibidas com orgulho nas procissões e festas locais.
Imagem: Câmara Municipal da Póvoa do Lanhoso
Outras candidaturas
A Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes de Cascais e a Romaria de Nossa Senhora dos Remédios do Arco de Baúlhe em Cabeceiras de Basto são outras tradições portuguesas que estão a preparar uma candidatura para vir a integrar a lista de Património Cultural Imaterial.
Artigo atualizado em abril 2024.
Gostaria de acrescentar algo? Deixe nos comentários abaixo.