“Os tempos da pandemia foram duríssimos” para os lares de terceira idade
Imagem: Domus Areeiro (Facebook)
No Dia Mundial da Terceira Idade, o Portugal Actual fala com Diogo Figueira, Diretor Operacional Serviços Sociais da Domus Areeiro.
O responsável realça que há “cada vez mais pessoas que procuram
um lar por iniciativa própria” e aborda os principais cuidados que devem ter os
lares de idosos em
Lisboa.
- Recentemente foi noticiado que algumas instituições mantêm limitações às visitas nos lares, impedindo o acesso de familiares e amigos. No entanto, a DGS apenas recomenda o uso de máscaras e já levantou as restrições de visitas. Que razões podem levar a esta limitação e quando poderemos voltar ao “normal” funcionamento dos horários de visita dos lares?
A principal razão, na minha ótica, que leva muitas instituições ainda a manter algumas limitações é o simples facto de quererem proteger ao máximo os seus residentes e os seus trabalhadores. Os tempos da pandemia foram duríssimos e muitas instituições viram-se sozinhas no combate a tudo o que ia acontecendo. Claro que agora, apesar de a DGS ter aliviado bastante as medidas, as instituições não querem essencialmente passar pelo mesmo! É importante que se preserve a qualidade de vida do residente e em nenhum momento as restrições devem ser duras como já foram, no entanto é preciso ainda ter cuidado e compreendo e concordo que ainda haja algumas regras, sendo que isso já varia obviamente de instituição para instituição. Por experiência próxima posso dizer que existem famílias que efetivamente não concordam, mas a grande maioria concorda, compreende e apoia!
É fundamental uma visita pela instituição e ter
atenção às instalações, ao trato do pessoal para com os residentes, aos
serviços que oferecem, ao horário de visitas e às condições de segurança que
apresentam".
- Muitas famílias portuguesas se deparam com a necessidade de encontrar um lugar para deixar os pais/avós, por não terem condições para os manterem em casa. Como escolher um lar de idosos? Que cuidados devemos ter para garantir que os nossos familiares são bem tratados nesta fase mais frágil da sua vida?
Penso que o principal requisito deve ser o de verificar sítios que tenham alvará de funcionamento da Segurança Social. Isto faz com que numa primeira fase sejam separados os lares ilegais com os lares legalizados sendo que estes cumprem à partida variados requisitos, que os lares ilegais não cumprem. Posto isto, é sempre fundamental uma visita pela instituição e ter atenção às instalações, ao trato do pessoal para com os residentes, aos serviços que oferecem, ao horário de visitas e às condições de segurança que apresentam. É verdade que escolher um lar nunca é uma tarefa fácil, mas deve existir confiança no momento da escolha, sendo que existem bastantes lares que deixam transparecer com muita facilidade essa mesma confiança.
- Pela sua experiência, quais são as principais doenças ou problemas de saúde em Portugal que encaminham as pessoas mais velhas a procurar um Lar para viver?
Apesar de começar a notar-se cada vez mais pessoas que procuram um lar por iniciativa própria, para usufruírem de serviços que não tem em casa, a maior percentagem de pessoas que procura um lar/residência é mesmo por motivos de saúde. E aí tenho de destacar as doenças do foro cognitivo, como o Alzheimer e as demências, sendo que cada vez mais idosos em Portugal padecem destas doenças e assim por sequência grande partes dos residentes padecem destes problemas. Assim torna-se incomportável estar em casa e em muitos casos até mesmo perigoso. As dificuldades físicas e motoras são um outro motivo que leva as famílias a procurar estas respostas, sendo os residentes com pouca ou nenhuma mobilidade os que vão para uma instituição. Por fim temos as pessoas que ficaram acamadas, sendo que muitas vezes esse tipo de residente está à espera de vaga na Rede Nacional de Cuidados Continuados e não tem condições de estar em casa.
É preciso promover atividades dirigidas
por um Fisioterapeuta, por um Terapeuta Ocupacional e até mesmo um Animador".
- Compreendemos que a atividade física continua a ser importante para pessoas desta faixa etária. Dadas as dificuldades que alguns idosos demonstram em termos de mobilidade e mesmo de alterações mentais, que atividades podemos encorajar num Lar de 3ª idade?
É preciso alguma imaginação de facto, bem como alguma compreensão de todas as partes. A verdade é que muitos idosos estão “cansados” e olham para este tipo de atividades como um cansaço desnecessário. No entanto creio que uma variedade de atividades, juntamente com uma variedade de especialistas podem ajudar a contrariar esta tendência. Creio que atividades dirigidas por um Fisioterapeuta, por um Terapeuta Ocupacional e até mesmo um Animador podem conseguir chegar a este público. Promover a atividade física enquanto se faz algo que se gosta e mostrar que esse tipo de atividades tem resultados ao nível da saúde. Passeios, ginástica em grupo, atividades neuro-motoras, fisioterapia em grupo/individual, atividades que remetam para o quotidiano…. Existem tantas que é quase impossível destacar, sendo que prefiro mesmo destacar uma equipa técnica capaz de fomentar essas atividades.
Imagem: Domus Areeiro (Facebook)
- E a nível de atividades sociais e culturais? Como é que um bom Lar consegue captar e manter o interesse dos seus hóspedes em conviver e relacionar-se com quem os rodeia?
Penso que a chave será a de fazer com que o residente se sinta em casa, e até mesmo que os familiares do próprio residente possam participar no processo de hospedagem numa residência. Uma boa panóplia de atividades lúdicas é importante, mas também é importante manter a autoestima, promover a independência do residente, não limitar os seus hábitos e a sua mobilidade. Claro que um passeio ao exterior calha sempre bem, bem como um torneio de bingo ou uma sessão de cinema, mas nada disto resulta na sua totalidade se o que acabei de referir acima não for fomentado e praticado.
A maior dificuldade que se sente ao fomentar uma alimentação
correta é a de o residente trazer maus hábitos alimentares".
- Uma alimentação equilibrada é crucial em todas as fases da vida e a partir dos 65 anos não é exceção. Quais as principais limitações alimentares que encontra e quais as dificuldades que sente na correta alimentação dos idosos?
A maior dificuldade que se sente ao fomentar uma alimentação correta é a de o residente trazer maus hábitos alimentares. E é totalmente compreensível, se toda a sua vida o fez assim, se gosta, se é docinho, porque parar/diminuir? De seguida encontram-se limitações relacionadas com a saúde, estando os diabetes e o colesterol à cabeça dos principais problemas que causam limitações. Posto isto é importante haver um trabalho de sensibilização para com o residente/família bem como tentar apresentar outras alternativas para que o residente esteja saudavelmente alimentado e continue a sentir prazer em comer, sendo que uma ementa ou um plano de alimentação realizada por um profissional pode ajudar em muito. Por fim apresentar variedade e qualidade, afinal de contas este é um dos maiores prazeres que um idoso tem, o de comer bem.
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